Comecei hoje a ler o livro "A Causa das Coisas" de Miguel Esteves Cardoso.



Um comentário inicial - que não é ainda opinião nem crítica ao livro - é o facto notório que MEC tem em ter escrito estas crónicas há mais de 20 anos e, depois desses anos, o conteúdo continua perfeitamente actual.

O livro tem uma escrita um pouco demasiado formal para o meu gosto habitual (por alguma razão nunca fui aluno de letras e humanidades) mas, ainda assim, do pouco que li gostei.

Quando tiver concluído a minha leitura desta obra, direi então a minha opinião geral.

Um bom fim de semana para todos,
Pedro Lino

É curioso como o teu aparecimento aqui no fórum me despertou a memória para esse livro, Pedro. Voltei a ter vontade de o ler, para relembrar quase tudo, que mais de 15 anos apagam muita coisa. Registei os bons momentos que ele me proporcionou, registei o brilhantismo da escrita, o desconcertante encadeamento argumentativo e o refinado humor, mas ... esqueci quase todos os pormenores.
Falei nele á minha esposa, que diz que tambem nunca o leu. E assim de repente... tenho um livro para comprar (coisa rara)!

Bem... se achas que o MEC tem uma escrita formal, que raio dirás tu de certas 'vedetas' que eu cá sei...?

"Formal" não era bem o termo que eu queria dizer.

O que quero dizer é que a escrita do Miguel Esteves Cardoso, certamente, não cativa muitos leitores que, provavelmente, até gostariam de ler as suas crónicas.

A escrita do MEC faz-me lembrar a escrita de um falecido professor meu de Filosofia há uns anos atrás (nem me lembro quantos). Um dos melhores professores que alguma vez tive no secundário. Tenho um livro dele em casa, também com crónicas, que são de facto interessantes mas por vezes se tornam um pouco enfadonhas devido ao vocabulário usado. Mas, e atenção, eu gosto na mesma. Tal como estou a gostar d´ "A Causa das Coisas".

Vou pegar num exemplo de um escritor que provavelmente toda a gente conhece - José Rodrigues dos Santos.

A escrita dele é bastante cuidada, com um vocabulário bastante rico, mas acessível a todos os leitores.

A questão aqui, é que há muitas pessoas que gostam de ler mas como, ou nunca foram da área de letras, ou simplesmente por outro motivo qualquer, não gostam de ler "palavras demasiado caras".

Eu como estou habituado a ler, não me faz confusão nenhuma, mas continuo a gostar de ler escritas cuidadas mas ao mesmo tempo simples e que não sejam demasiado vulgares.

Só uma pequena curiosidade: o "Jotace" não costuma comprar livros porque...

...porque perdeu o hábito da leitura há muitos anos, muito por culpa de se ver obrigado profissionalmente a queimar os olhinhos entre 8 a 15 horas por dia com ecrans e livros técnicos de informática ou relacionados. E depois do hábito perdido, é complicado voltar a recuperá-lo. Mas tenho uma novidade para ti, Pedro: hoje comprei dois livros. "A causa das coisas", e por arrasto "As minhas aventuras na republica portuguesa", ambos do MEC.
Quebrei um enguiço de muitos anos (se não contar com o teu livro, Pedro), e de alguma forma, és tu o responsável por tal feito.
Já comecei a reler a "Causa das Coisas" e voltei a sorrir com a lógica demolidora e corrosiva do MEC. É um livro repleto de verdades. Algumas vezes exagerado, mas a caricatura escrita apenas ajuda a acentuar a ideia.
Sabes, Pedro, eu estudei na area de letras e humanidades. Mas não passei do 12º ano. Se eu sei escrever alguma coisa de jeito e não dou erros gramaticais de palmatória (como vejo muitos doutores e engenheiros a dar hoje em dia), devo isso a todos os livros que li na minha adolescência e que tinham a tal escrita 'cara' com palavras e termos pouco comuns ao Zé Povinho. Eu lia desbragadamente até aos meus 16-17 anos. Ainda aos 17 comecei a trabalhar como Informático, e a partir daí foram raros os livros que li que não fossem de ambito técnico.

Sou da opinião que um livro deve, alem de nos contar uma(s) boa(s) história(s), ensinar-nos a contar, com qualidade, as nossas proprias histórias. E para isso, como sabes, é preciso ler palavras caras e textos densos, coisa que a malta nova, hoje em dia, com raras excepções, não faz. E depois... é como dizes, pá: "MeSmU fiXe exA fOtuh aDoLu-Te paXa nu mEu..." e por aí fora. Tristeza...

Boas.

Fico contente por, de alguma forma, ter alimentado a iniciativa que o Jotace teve de voltar a comprar livros. O que é importante é que as pessoas tenham prazer naquilo que fazem. Quanto ao tempo que temos, é saber geri-lo. As alturas em que eu leio mais são as férias, pois a faculdade ocupa-me também muito tempo.

Até breve,
Pedro Lino

Estou a divertir á grande com o inicio da re-leitura deste livro, tantos anos depois. Reconfirmei a tal impressão que me tinha ficado de outros tempos: o homem tem um dom especial para nos fazer rir de nós próprios. Partilho convosco alguns excertos deliciosos de duas das crónicas, para perceberem do que falo:

"Na História Portuguesa, os grandes acontecimentos assinalam-se através do sufixo '-ada' : A Abrilada, a Setembrada, e a mais empolgante de todas, a Jantarada. (...) A agressividade com que dantes se partia para cascar em Mouros e Castelhanos é hoje substituida pela violencia com que os portugueses se batem com umas lulas ou atacam uma chanfana".

.../...

"A forma de administração mais peculiarmente portuguesa, que a nação há séculos elegeu e praticou, é a 'Balda'. (.../...) A Balda não é, como muitas vezes se pensa, a ausência de um sistema. Pelo contrário é um sistema por direito próprio especificamente construido e aplicado para a solução ilusória de problemas complexos (.../...) Tudo o que vem á rede neste país pode não ser peixe, mas podem ter a certeza que acabará por fazer parte integrante da caldeirada."

Ainda há pouco tempo li esses textos. A última frase é, sem dúvida, a minha preferida.

Muito bom, este livro.

A minha opinião deste fabuloso e genial livro é a mesma do inicio - espectacular.

Como já referi, é deveras interessante o facto de o livro ter sido publicado há mais de vinte anos e continuar actual. Já comprei mais obras do MEC.

Gosta de Pedro Paixão, Jotace ?

Há pouco tempo li "Viver Todos Os Dias Cansa" e gostei. Tanto gostei que quero conhecer mais dele.

Abraço,
Pedro Lino

Fico contente por te ter ajudado a descobrir o MEC, Pedro.

Não sei quem é o Pedro Paixão. Nunca li nada dele. Como, aliás, nunca li nada de muita gente que devia ter lido (defeito que já te confessei antes). É uma vergonha, mas ... gajo que é gajo assume as suas fraquezas da mesma forma que assume as suas forças. Por incrivel que pareça, ainda não acabei de reler o "Causa das coisas". Interrompi-o por uns dias, os dias passaram a semanas, e agora está a ganhar pó na mesa de cabeceira. Achas isto normal? Eu não, mas... mas... nada.

"A Causa das Coisas" é um livro para se ir lendo, e não de uma só vez - como diz o próprio MEC.

Também tenho alturas em que os livros que tenho na mesa de cabeceira estão somente a apanhar pó. Como eu também já disse, por vezes a Faculdade ocupa-me muito tempo. Mas, de qualquer maneira, não consigo não ter, pelo menos, um livro na mesa de cabeceira. Isso tenho sempre.

Ler é algo que tenho grande prazer em fazer, é um hobbie. Não percebo aquelas pessoas que perdem tempo com novelas e quintas de facebook - é uma parvoíce. Mas enfim, gostos não se discutem e hábitos também não.

Devo dizer que a sua opinião ao meu livro foi a critica mais construtiva e completa que recebi até agora. Agradeço-lhe uma vez mais por isso. E também pelo "empurrão do MEC".

Concordo, não dá para ler de "enfiada", se não torna-se uma seca!
Algumas das crónicas são brilhantes. As outras valem pelo registo e caricatura de tempos idos.