Faltam...50 dias para o Natal.. e de repente dei conta que mais um ano está a chegar ao seu final.
Confesso que me assustei pela forma veloz como o tempo passou, embora este ano eu tenha ficado com a sensação que "vivi" mais um pouco, que fiz coisas diferentes e não me limitei a deixar arrastar os dias..
A verdade é que estamos quase de novo no Natal e isso fez-me questionar algumas coisas..
Obviamente ao lançar este tópico aqui nas tertulias eu gostava que os outros membros participassem e nos contassem algo sobre a forma como vêem a época Natalícia.
O Natal de crianças era diferente? O que costumam fazer? O que previligiam mais no Natal, que presentes vão comprar e porque?
O que costumam comer na Ceia de Natal? Vão á missa do Galo?
Etc Etc Etc.....

Memorias do meu Natal
Quando eu era pequena, cerca de 6 a 10 anos talvez são as memórias mais felizes que tenho desta quadra denominada Natalícia..
Esta festa sempre se revestiu em Portugal de um aspecto de reunião familiar e a minha família bem típica portuguesa não fugiu á regra nos anos 70.
Recordo com muito carinho que a consoada de Natal sempre foi passada em casa dos meus avós,(pais da minha mãe), para onde marchávamos todos como se uma autêntica romaria se tratasse.
Colocava-se uma mesa enorme sobre o comprido na adega do avó, surripiava-se as cadeiras todas da casa e a minha mãe e irmãs presas ao fogão de lenha, cedo começavam a tratar do repasto.
Como o meu avó era merceeiro atendia sempre a freguesia até tarde e era na mercearia que eu penso que se dava inicio á Festa, numa mesa com cadeiras e ao balcão, onde se servia ainda o copo de tinto.
Sempre gostei da mercearia atraí-me as conversas dos mais velhos as gargalhadas entre copos de vinho e figos secos.
Volta e meia e meia volta lá ia eu espreitar até a minha mãe dar pela minha ausência e me chamar,.., mas eu gostava, era um dos poucos dias que eu via o meu pai relaxado, o meu tio Armando sempre nas anedotas , o meu avô a tentar sempre manter o respeito de ar sério, mas a sorrir.se nos olhos, obviamente a clientela vinha para a mercearia fazer horas até á hora da janta.
Era bom, juntavamos as 3 famílias, o meu primas e primas, eramos cerca de 8 , todos em idades diferentes, brincavamos ás caçadas, implicavamos com os porcos e vacas, praticavamos tiro ao alvo com as fisgas, aos pardais e lá vinha a avó Celeste meia volta, volta e meia ver o que a canalhada andava a aprontar...e ralhar claro porque já tinhamos estragado e pisado mais de metade do quintal.
Sem qualquer efeito diga-se de passagem, eramos uns terrores, mas nessa noite a casa da avó era o nosso castelo ...e o Pai Natal só conhecia aquele caminho para nos dar presentes.
Cozinhava-se em fogão de lenha e numas pequenas grelhas a petroleo, a Luz era escassa nesses tempos, mas não faltava as filhós, as rabandas de vinho, o arroz doce, a aletria. leite creme e... com sorte bolo rei e pao de ló que se fazia em casa.
O tio Domingos falava pouco, mas fazia-se presente sempre no contra e a resmungar... (Aproveito para lhes desejar Feliz Natal Tio Domingos e Tia Blandina..)
O Bacalhau, ovos cozidos, batatas cozidas com couves e uma broa que nunca mais esqueci de tão boa que era.. tudo regado a azeite..
Assaltava-se os pipos ia-se á torneira com a caneca e não me lembro de haver sumos e coca-colas para os mais pequenos, era limonada e agua...
Á Mesa grandes e graudos falava-se de vida e se alguem mais exaltado se prenunciava contra o regime, quase que ainda sinto, o alarme das mulheres de que alguem pudesse estar a ouvir e a acusar á PIDE, o meu tio Armando sempre foi um refilão...
Calem-se, Calem-se que isto ainda vai acabar mal.. diziam elas"
Se eu pensar bem as nossas ceias de natal só eram emsombradas na sua expontaneidade pelo medo da PIDE e de alguma repercusão sobre uma afirmação mais "acesa".
Mas sabem, naqueles dias conversava-se , não havia televisão, playstations, computadores , e de conversa em conversa se passava o tempo até á hora da Missa do Galo.
Aquelas sobremesas, aquela mesa farta, para mim era um luxo e como criança ficou sempre nas minhas recodações mais felizes....
Depois da Missa Do Galo.... roubavamos as latas ao meu avó das chouriças em oleo e vinha a canalhada pela rua fora a bater com paus nas latas e a cantar, nasceu o Deus Menino....Aleluia, cheios de frio talvez, mas creio que nem o sentiamos , Afinal era Festa.
A noite acabava com os nossos pais literalmente nos abandonarem á nossa sorte... e irem para casa, enquanto nos ficamos a dormir ansiosos á espera do Pai Natal em casa dos avós.
Agora mais velha... penso.. aquelas noites em que ficavamos em casa dos avós a verdadeira Festa continuava, só que a canalhada não assistia.
O rebulico de acordar mais cedo e ver os presentes que eram deixados á lareira, as confusoes de troca de presentes, mas a nossa alegria e quiçã algum ciume porque a minha irmã recebia sempre presentes melhores dos que os meus, e as minhas primas piores, ou melhores.
Mas no fim todos brincavamos juntos e nem sempre era importante.. este presente é de quem....
Tinhamos era de ir á missa para dar o beijo ao Menino, nesse tempo podiamos dar beijos ao Menino, nao havia Gripe A.
Estas são as memorias felizes do meu Natal... com a morte do meu avô , uns anitos mais tarde, tudo mudou, já não havia alegria para festas, a seguir, o meu Pai,, mais 6 meses , o meu Tio Armando... e
Para mim o Natal nunca mais foi o mesmo... embora seja diferente...

Se eu pudesse pedir um dia um presente ao Pai Natal e ele existisse, gostava de ter como presente uma dessas noites de volta e revive-la outra vez.....