Neste tema não me vou alongar muito, até porque algumas coisas que penso sobre isto já foram divulgadas no topico "Ai Portugal", mas ainda assim, deixo aqui a minha colherada.

Chamaste 'Crise Financeira' ao tópico, mas depois abordaste-o numa vertente mais de acordo com a crise económica e social, do que sobre a financeira. De facto, a crise financeira abrange apenas a restrita parte relativa ao sistema financeiro (Bancos e entidades parabancárias, Fundos convencionais e Hedge funds, etc). A crise medonha que nos assola começou por ser apenas financeira, mas foi tão destrutiva que rápidamente alastrou para o ambito economico e social.
Algumas pessoas com quem troco impressões não entendem como raio os Bancos, os Fundos, os milionários e até os países podem falir assim, num espaço de meses. Há quem me diga que acha que tudo isto é uma farsa para enganar o povo, e que a tal riqueza ou solidez financeira não desapareceu de facto, está apenas oculta. Mas, infelizmente, não é assim.
Aquilo que de facto não existiu foi a aparente opulência da fase expansionista que se viveu antes, durante anos. Essa foi construida sobre 90% de ganancia, boa-vontade e expectativas elevadas, e apenas 10% de capital efectivo. Enquanto o dinheiro foi girando a uma velocidade impressionante pelo mundo fora, e a concessão de crédito para todos os fins subia piramidalmente, tudo parecia funcionar bem. Foi quando a musica subitamente parou, que começaram a reparar que não havia cadeiras para todos. Aliás... havia mesmo muito poucas cadeiras. A tal riqueza virtual não existia, o dinheiro real não estava lá, era tudo baseado em produtos financeiros marados, avaliações patrimoniais irrealistas, e expectativas de valorização futuras impossiveis de atingir.
O nivel de endividamento atingido foi de tal ordem que, quando a 'musica parou', é que se começou a perceber que quase ninguem podia pagar o que devia, e aqui refiro-me a todos, não só o Zé povinho: os Bancos, as parabancárias, os milionários, as empresas, etc.

Pondo de parte os casos mais simplistas de pura gestão danosa, deixo aqui um exemplo de um caso que veio para as noticias recentemente, para que possam entender mais facilmente como é que uma empresa (neste caso, um Banco) supostamente solida, pode estar presa por arames, pela espiral gananciosa em que se deixou envolver nos ultimos anos.

Uma grande construtora nacional, apareceu hoje nas noticias porque 'alguem' lhes analisou as contas e concluiu que a empresa está técnicamente falida, devido ás suas dividas serem superiores ao seu valor real.
Aqui há uns dias, um certo milionário nacional apareceu nas noticias devido a estar em maus lençóis, em riscos de perder a sua fortuna, devido á posição desmedida que quis comprar num Banco nacional.

Tanto a construtora como o milionário tiveram mais olhos que barriga, e a ganancia e as aspirações megalómanas levaram-nos a comprar participações financeiras muito pesadas no capital de um certo Banco. Contudo, não pagaram essas participação com dinheiro próprio! Parece que pediram dinheiro emprestado a ... esse próprio Banco! Quanto, não sei, mas se não foi todo, pelo menos foi uma grande parte. Compraram parte do Banco com dinheiro do próprio Banco, na expectativa de que a valorização continua das acções e dos lucros do Banco conduziriam ao pagamento do empréstimo. Milagres de engenharia financeira, que sempre resultaram no passado...!

Ora, os escandalos com a gestão do Banco estoiraram, depois veio a crise, as acções do Banco começaram a cair a pique, os lucros tambem, e ... começou a deixar de ser possivel á construtora e ao milionário o cumprimento das suas obrigações perante o Banco. O nivel de endividamento de ambos é tão elevado, que eles já não têm recursos para fazer face á desvalorização brutal que os seus activos sofreram. Estão, portanto, técnicamente insolventes, ou perto disso.
Como é que fica o Banco no meio de tudo isto? Bem... existe uma frase que eu li há muito tempo que ilustra bem isto:

"Se deves 100.000€ ao Banco, tens um problema, mas se deves 100.000.000€... o Banco tem um problema".

Se a construtora e o milionário 'estoirarem' por insolvencia, o Banco vê volatilizar-se uma percentagem muito elevada do seu capital social, e terá decerto muitas dificuldades em aguentar a pancada. É assim, meus amigos, que os Bancos, os milionários e as empresas com ambições megalómanas podem implodir em menos de um fósforo.

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Mas porque Raio se liga tanto ao dinheiro?
O social, economico não gira tudo á volta do Financeiro?

Porque é que se liga tanto ao dinheiro? Há muito que se diz que ele é um mal necessário. Sim, muito provavelmente, se não houvesse dinheiro, não poderiamos estar aqui, neste local de encontro virtual, a falar mal dele. Foi o dinheiro que permitiu a democratização e universalização da Internet.

Agora, irónicamente, vejam como conseguem ser infelizes pessoas que não deveriam estar a sofrer com a crise. O ser humano consegue ser tão mesquinho, que faz o impensável: transforma fortuna em infortúnio, em infelicidade, em miséria moral. Esta noticia é de hoje:


"Casal ganha euromilhões mas a partilha do prémio decide-se em tribunal

Namorados de Barcelos desavindos há dois anos por causa do Euromilhões

00h30m
DENISA SOUSA

Podiam ter uma vida milionária, mas são a prova de como o dinheiro pode mudar a vida para pior. Um casal de namorados de Barcelos ganhou o Euromilhões e digladia-se, há dois anos, pelos 15 milhões de euros em tribunal.

A verba, que daria para viver faustosamente, está bloqueada numa conta comum, por ordem do Tribunal de Lisboa, depois de os namorados, ambos na casa dos 22 anos, terem terminado a relação, movidos por desentendimentos quanto à propriedade legítima do dinheiro.

As partes envolvidas não quiseram falar ao JN, mas as conversas nos cafés e em toda a vizinhança revelaram os segredos que as duas famílias, a custo, tentaram manter. As bolas sorteadas saíram no dia 19 de Janeiro de 2007, através de um boletim preenchido no Café Brandão, em Alvelos, mesmo a meio do percurso que separa as casas dele, em Courel, e dela, em Remelhe.

Quem o registou? Conhecidos da rapariga dizem que foi ela, amigos do rapaz dizem que foi ele. Sabe-se, no entanto, que era uma prática semanal do casal, antes do arrufo. "O dinheiro é como o diabo que se mete no corpo. Se não fosse o Euromilhões, já estavam casados", conta um vizinho. Muita coisa mudou desde o dia em que o prémio foi festejado. "Ele perdeu o namoro, foi ela que terminou, mas ela também não ficou melhor, porque vive com medo. A mãe até andou receosa que a raptassem", assegura uma vizinha.

No Café Brandão, que se vangloria de ter dado o prémio dado através de um cartaz colorido, nem sequer se conhecem os intervenientes desta história rocambolesca. "Só soube que o recibo premiado tinha sido registado cá, pela listagem da Santa Casa. Eles foram directamente buscar o prémio a Lisboa", conta o proprietário. À capital, foi uma comitiva composta pelo rapaz, a namorada e os pais desta, que assinaram, logo depois, uma conta com quatro titulares, de onde só terão gozado o primeiro ano de juros.

Há quem diga que os pais não deviam ter-se metido ao barulho. Quer numa como noutra freguesia, as duas famílias quiseram, por precaução, esconder o facto de serem euromilionários, mesmo quando os rumores aumentavam de consistência. Conta-se que foi quando o jovem de Courel demonstrou ter intenção de dar algum dinheiro aos irmãos e ao pai, mais por partilha do que por necessidade, que a família dela se opôs.

Terminou-se o namoro e no epicentro da discussão passou a estar: afinal de quem é o dinheiro? De quem registou o boletim, de quem o encomendou ou de quem escolheu os números? "O miúdo teve de pôr uma providência cautelar porque a outra parte quer o dinheiro todo e não metade", contam. A conta está, desde então, bloqueada, à espera que o processo, que pode vir a transitar para o Tribunal de Barcelos, chegue ao término."


in http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1141546